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O que vai na alma

O sr. Luis vai morrer.


Foi-lhe diagnosticado um carcinoma hepatocelular há 4 anos. 

Quando soube da notícia, enfrentou-a com coragem, e decidiu que iria viver ainda mais. Pegou na esposa e com ela fez uma viagem *daquelas*, conseguindo encaixá-la na agenda preenchida de consultas, cirurgias, análises e sabe-se lá mais o quê. 

Quando entrei no internato, estava ele na fase inicial da sua luta. Uma pessoa com vontade de viver, que não se deixava ir abaixo, uma família extraordinária. Entretanto iniciei estágios hospitalares, continuei o meu processo de aprendizagem... e confesso, perdi o rasto ao sr. Luis. 

Ele continuou com os tratamentos. Em Dezembro do ano passado, tomou a decisão difícil de suspender quimioterapia. Afinal, estava a prolongar-lhe a vida... mas que vida? Hospitais, consultas, vómitos e cada dia pior que o anterior. Para quê? Parar seria a solução. E a familia, extraordinária como é, apoiou. 

Calculava-se que não durasse muito tempo. Mas já lá vão 9 meses, e o sofrimento continua. Fui hoje fazer-lhe uma visita ao domicílio. Ai, seria aquela pessoa emagrecida e ictérica, ascítica e praticamente imobilizada, com olhar triste e apagado... o sr. Luis que eu conhecera previamente? A aguardar a morte, a desejar a morte... a própria família a ver a morte como um modo de libertação. Não falámos muito, o olhar vazio interompido por lágrimas fizeram a conversa toda. 


... Decididamente, sou a favor da eutanásia. Ninguém merece tal castigo ....

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