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Viver no faroeste

Estou a exagerar, eu sei.

Mas hoje estava eu a fazer consulta de saúde mental no primeiro andar do prédio habitacional para onde me ocupo nos últimos meses, a meio da colheita da história de uma doente, quando um "PUM!" (ou será que a onomatopeia correcta é antes "PAU!") vindo do lado de fora da janela quebrou o semi-silêncio do gabinete. Literalmente do lado de fora. Não a três quarteirões de distância, mas ali ao lado. Soava como se tivesse sido um tiro disparado. E deve ter sido - segundos depois, ligaram-se sirenes de prováveis carros de polícia (eu não fui à janela confirmar, lógico). Daí a outros segundos "PAU!, PAU!, PAU!, PAU!, PAU!", e ouviram-se as sirenes darem a volta ao prédio, provavelmente numa perseguição do autor dos "PAU!".

Devo ter ficado com olhos esbugalhados. A doente à minha frente diz apenas "ai, as pessoas não têm juizo nenhum" e lá continua a falar nas suas maleitas como se eu estivesse a ouvir. A senhora que me desculpe, mas fiquei momentaneamente perturbada e não ouvi palavra nenhuma durante os 5 minutos que se seguiram.

Puxa. Gente maluca lá fora, gente com patologia psiquiátrica mas bastante sã dentro daquelas paredes. E são estes infelizes que têm o estigma social todo, enquanto os que fazem M**** estão lá fora a passear-se com armas.

Faroeste na margem sul. Quem diria...

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