... E foi hoje, ao olhar a multidão que se juntou para te dizer um último adeus, que eu percebi... Foram elas que perderam um pai, um marido, um filho. Foram eles que perderam um irmão, um padrinho, um colega.
Adeus ...
A minha tulipa
Ontem deram-me uma túlipa. Não sei o nome da pessoa que ma deu, mas adorei receber esta túlipa vinda de um estranho. Era uma túlipa frágil; passou um dia inteiro num cesto, e teve de aguentar a viagem de Lisboa à margem sul sem uma gota de água. Ao longo da viagem, fui apreciando a minha túlipa. As suas pétalas vermelhas, as suas três folhas verdes... a maneira como estava a definhar perante este dia trágico da sua existência. Era uma túlipa vermelha linda, mas era uma túlipa vermelha a morrer lentamente. Chegada a casa, pus a túlipa num vaso com água, e entristeci-me ao ver que a fraqueza do talo fazia com que a flor ficásse dobrada, a apontar para o chão.
Hoje saí de casa bem cedinho, e confesso que mal olhei para a túlipa no seu vaso. Não reparei no seu estado... Mas ao regressar a casa, já novamente de noite, olhei para ela. Reparei nela, e não pude deixar de sorrir ao ver que o talo tinha ganho nova vitalidade, e a flor erguia-se de tal modo que nunca ninguém suspeitaria, hoje, que ontem ela tinha estado num estado lastimável.
... Era tão bom que todos nós, tal como esta túlipa, fossemos capazes de nos erguer depois de cada um dos nossos momentos de maior fragilidade com o auxílio de um simples copo de água ...
"Juro por Apólo, médico..."
Dirigindo-se às centenas de médicos que hoje cumprem o seu Juramento, Pedro Nunes agradeceu “juntar a força da sua juventude à experiência dos que já caminharam um longo percurso”, relembrando que “a partir de hoje serão responsáveis pela vida e saúde dos que em vós confiarem. Sentirão a gartificação das pequenas vitórias e o desconforto das inúmeras derrotas”.in Cerimónia de Abertura do Congresso Nacional de Medicina
Foi ontem... e apesar de todas as pequenas falhas, será mais um daqueles momentos que nunca mais vou esquecer na vida...
Raios
Elypsis says:
se te pudesse dar uma palavra seria raios
Ora aí está uma frase para ser ler no meio de uma conversa de msn. Raios?! Caramba, com tantas palavras, aquela que me caracteriza é "raios"? ....
... ai ai... devo ter falhado algures. Onde? Não sei bem... mas enfim... raios.
:)
Num banco de jardim
Estava sentada não sabia há já quanto tempo. Sentara-se inicialmente apenas para descansar um pouco, apreciar a paixagem durante uns minutos, mas foi-se deixando ficar. Por alguma razão que não conseguia especificar, aquele banco naquele jardim invocou uma recordação, que levou a outra, que levou a outra, e por aí fora. Deixou-se ficar no banco, sentada, aparentemente sem fazer nada. Os que por ela passavam pensariam certamente que ela estava ali apenas há uns minutos - ninguém suspeitaria que já se encontrava ali sentada há horas. Curioso como aos poucos as recordações dissiparam-se, deixando apenas uns sentimentos soltos e dispersos. Já não sabia no que pensava, no que recordava, mas saboreava aqueles sentimentos invocados, fragmentos de pequenos pensamentos que não chegavam a tornar-se conscientes.
Naquele momento, os seus olhos vidrados fingiam olhar para uma nuvem, lá longe no horizonte. Na verdade, a nuvem aparecia-lhe desfocada, e ela estava longe. Longe daquele banco, longe daquele jardim, longe da realidade da qual inconscientemente tentava escapar. Estava ali, rodeada de estranhos que íam passando no seu corre-corre habitual, sozinha com os seus pensamentos inacabados.
A frustração que diariamente ocultava vinha agora ao de cima. Afinal, estes estranhos, para ela invisíveis, pouco ou nada tentariam decifrar, e ela podia permitir-se estes momentos de liberdade, sentada neste banco de jardim. Afinal, para eles também ela era invisível. Não precisava de disfarçar, podia ser ela mesma, sem a preocupação da avaliação constante dos outros.
E as lágrimas contidas há tanto tempo acabaram por caír. Nem ela sabia bem o porquê. Nunca saberia o que as tinha feito caír, mas lembrar-se-ía para sempre do rasto salgado que tinham deixado na sua pele. Agora os estranhos olhavam para ela, tentavam disfarçar. Mas nenhum parou. Baixou a face, ocultando olhos inchados, e novamente os estranhos tornaram-se invisíveis. Deixou-se estar, saboreando amarguras que até ali desconhecia.
Não sabia quanto tempo tinha permanecido naquele banco de jardim. Mas o sol estava já a pôr-se, e o calor da tarde já se tinha dissipado. "Está frio", foi o primeiro pensamento concreto que lhe atravessou a mente, depois daquele turbilhão emocional. Ao longe, avistou a noite que estava prestes a chegar. "Faz-se tarde", foi o segundo pensamento. Levantou-se, e reparou na estranha leveza que sentiu ao fazê-lo, leveza essa que já não sentia há tempos.
Começou a caminhar, retomando o trajecto há muito interrompido. Vestiu uma vez mais a máscara que se acostumara a usar para iludir os outros, voltando à sua habitual aparência feliz e despreocupada. Nunca ninguém saberia deste seu momento naquele banco de jardim, de como a tinha transformado, das marcas que velhos sentimentos recalcados deixaram agora ao serem invocados, que nunca se apagariam... Ninguém desconfiaria que a pessoa que se levantara há momentos daquele banco não seria, nunca mais, a mesma pessoa que se tinha lá sentado horas antes.
Haja coragem para enfrentar o próximo banco...
Irra, que depois dos assédios vêm as respostas tortas vindas de todos os lados.
... Já não se fazem bancos como antigamente...
(o mundo enlouqueceu, e eu fui apanhada desprevenida no meio de tanta loucura)
Uma voz na pedra
Não sei se respondo ou se pergunto.
Sou uma voz que nasceu na penumbra do vazio.
Estou um pouco ébria e estou crescendo na pedra.
Não tenho a sabedoria do mel ou a do vinho.
De súbito ergo-me como uma torre de sombra fulgurante.
A minha ebriedade é a da sede e a da chama.
Com esta pequena centelha quero incendiar o silêncio.
O que eu amo não sei. Amo. Amo em total abandono.
Sinto a minha boca dentro das árvores e de uma oculta nascente.
Indecisa e ardente, algo ainda não é flor em mim.
Não estou perdida, estou entre o vento e o olvido.
Quero conhecer a minha nudez e ser o azul da presença.
Não sou a destruição cega nem a esperança impossível.
Sou alguém que espera ser aberto por uma palavra.
- António Ramos Rosa -
Nada mais que um desabafo
Como eu detesto chegar ao fim. Procurar, estudar, desvendar pequenos mistérios da ciência, e continuar, sempre à procura de mais - mais informação, mas soluções, mais opções terapêuticas. Até que a nossa linha de pensamento se esgota. Acabaram-se as armas, acabou-se tudo. Não resta mais nenhuma opção, não existem mais armas terapêuticas. Chegou-se ao fim. Se até agora não funcionou, então nada mais do que nós conhecemos irá funcionar... As guidelines foram seguidas, as técnicas ainda em fase de estudo foram experimentadas, as técnicas em fase rudimentar de experimentação não nos levam, por enquanto, a lado nenhum. Resta-nos pois erguer as mãos num gesto de pura derrota, e resignarmo-nos com a nossa pequenez no meio de uma ciência imperfeita. Declararmo-nos vencidos numa guerra que não nos pertence, após longas batalhas, umas quantas ganhas entre tantas outras perdidas, e simplesmente desistir. Reconhecer que nada mais funcionará. Reconhecer que é escusado, talvez até cruel, continuar a tentar. Reconhecer que acabou.
... como eu detesto chegar ao fim ...
Tão lindo! :)
(pronto, apeteceu-me partilhar esta pequena maravilha musical convosco - Portuguese Love Theme - do filme Love Actually)
Voltando à realidade
Acho que é seguro dizer que já estou (pelo menos parcialmente) recuperada do boom entusiasta de ontem. O "ena pá, que fixe!!" com olhinhos a brilhar ainda se escapa de vez em quando, mas já caí na realidade novamente. E a realidade é que está um dia cinzento lá fora, carregado como tudo, e como se isso não bastasse, estou de banco esta noite.
Bah.
Por essas razões, o "ena pá que fixe!!" foi-se tornando cada vez mais raro com o passar das horas. É a vida! :D Daqui por uns meses, falamos novamente. Até lá, vou estar a cair novamente na velha rotina do comer, trabalhar, dormir, e ir fazendo algumas coisas giras nos entretantos, apenas numa de passar o tempo de forma entretida... sentada numa bela duma cadeirinha almofadada (ou melhor ainda, deitadinha de barriguinha para baixo) para ver se não dói tanto! :P lol
Feliz, contente, alegre, e muito muito mais!
Ena pá, ena pá, ena pá, ena pá, ena pá, ena pá, ena pá, ena pá, ena pá, ena pá, ena pá,ena pá, ena pá, ena pá,ena pá, ena pá, ena pá,ena pá, ena pá, ena pá,ena pá, ena pá, ena pá,ena pá, ena pá, ena pá,ena pá, ena pá, ena pá,ena pá, ena pá, ena pá,ena pá, ena pá, ena pá,ena pá, ena pá, ena pá, (....), ena pá,
A vida é uma coisa extraordinária. Neste momento, estou feita tolinha, a dar pulinhos sem saber muito bem como reagir. Dói-me o coccix, e desconfio que o parti há umas horas (a queda foi brutal e grande, e o braço esfolado não traduz a dor que sinto sempre que me sento desde então). Tudo isto dificulta o processo dos saltinhos, mas sinceramente, não os consegue apagar nem por nada deste mundo.
A sério, sorriso de orelha a orelha é pouco. E todo o cansaço desapareceu (mesmo aquele acumulado ao longo de um fim de semana excelente). A ideia original era postar qualquer coisa giro e divertido sobre o fim de semana. Mas neste momento, sou incapaz. Neste momento, tenho apenas um grande pensamento a invadir todo o meu cérebro. E a única coisa que me sai é um simples: TÃO FIXE!!!
Eu estou contente. :) No verdadeiro sentido da palavra.
A minha desocupação temporária
Enquanto outros gozam as suas vidas, enquanto outros estudam desalmadamente para exames, enquanto outros trabalham até horas tardias, enquanto outros esperam a cura da sua doença deitados em camas de enfermarias, enquanto outros fazem mestrados ou doutoramentos, enquanto outros vão à piscina dar umas braçadas, enquanto outros se ocupam de uma forma ou de outra...
... eu aqui estou sentada uma vez mais à velha secretária, por onde já passaram tantos calhamaços, tantos apontamentos, rascunhos, trabalhos e relatórios, tantos anos dedicados a estudo, desde as primeiras letras, às contas de dividir, aos sonetos de Camões, aos exames nacionais, aos Rouvieres e aos Harrisons (e neste momento tão vazia, apenas com um computador em cima. - já mal reconheço esta secretária..), e mais uma vez escrevo um post sem grande interesse, apenas para manter a dinâmica do blog. Desocupei-me durante 5 minutinhos especificamente para o fazer, entre tarefas que merecem a minha atenção.
A todos os que se ocupam com coisas sérias - boa sorte.
A todos os que se ocupam com coisas verdadeiramente giras - divirtam-se.
A todos os desocupados que ainda têm esperanças de vir aqui e ler qualquer coisa de interessante - get a life!
:)
STOMP
... quem diria, hein? Eu, a gostar (a vibrar!) com batuques?! Foi muito bom!
Benditas estas alminhas que me convencem (a muito custo, e lutando contra muitas desculpas esfarrapadas, note-se) a saír de casa de vez em quando...!