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Ser doente




São 6... 6 batas brancas, nenhum com mais de 2 anos de "experiência", de volta do doente... que os olha, com ar desconfiado. Afinal, tanta bata branca não pode ser bom sinal... Tantos olhos esbugalhados a olhar, alguns com entusiasmo, outros com ar de quem não quer estar ali... Os sussurros...

O sorriso quase maldoso ao reparar que o fígado é palpável! "Este palpa-se mesmo bem! inspire fundo! agora deixe sair o ar... outra vez! Vá, agora mais outra vez, vem aí o meu colega, também quer palpar!"

"É da cirrose!" comenta um dos alunos, com ar triunfante, ao professor, enquanto passa... "é do álcool", responde o professor, sem fazer caso...

E o doente ali está, caladinho... sentido-se observado. Álcool? "Mas eu já deixei de beber, senhor doutor"... cirrose? "Mas isso é grave?"... 6 estetoscópios a auscultarem-no... "Mas o que é que se passa comigo? porquê eu?"...

6 bocas a insistirem com perguntas chatas, quando o sono febril se apodera do doente.

"Mas como era a dor? Facada, picada, moinha?" ... a dor era simplesmente uma dor... para quê classificar? Não podem apenas dar um analgésico? Tou com dor... Apenas quero dormir...

De repente, dizem que já não o chateiam mais... "Amanhã passamos por cá a saber como está! Já sabe, se precisar de alguma coisa, é só chamar!"...

Finalmente! Que maçada....!

Mas no dia seguinte, vão para a cama do lado... Dizem bom dia ao entrar, mas já quase não se lembram da sua existência. Pode haver quem pergunte se está melhor, se a dor passou... mas parece não estar muito interessado na resposta. Afinal, hoje o doente é outro. Hoje, a atenção vai para o companheiro da cama do lado... Hoje, já não querem saber do doente de ontem...

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