Hoje recebi a minha segunda carta endereçada a "Exma. Sra. Dra.". Lá dentro, o texto começava com "Caro/a Colega". Isto levou-me a pensar nos títulos que se dão a uma pessoa. Consigo apontar um dedo ao dia em que me tornei Dra., mas já o Sra. não sou capaz. Quando aconteceu?... Mais ou menos pela mesma altura em que me começaram a tratar por você, ou na 3ª pessoa do singular, em detrimento do "tu" a que estava tão habituada, provavelmente... Mas quando foi isso? Lembro-me até da primeira vez que alguém me chamou senhora - tinha uns 19 anos e ía a passar ao pé de uma creche, onde um menino atirou a bola para a rua. Aflito, ao ver-me passar, chamou logo "Ó senhora! Senhora! Pode dar-me a bola?"... Terá sido nesse dia? :)
A verdade é que não passam de títulos. Palavras atribuídas para diferenciar os membros de uma sociedade, quase que a atribuir-lhes um valor. Sra. Dra, Sr. Engenheiro, Dona, Sr. Comandante, Sra. Professora... apenas títulos. E não passam disso, pois não é o título que define a pessoa.
E pus-me a pensar... Não é o mesmo que nós fazemos ao atribuirmos rótulos a determinadas relações? Palavras para diferenciar as diferentes pessoas nas nossas relações inter-pessoais? Que não passam disso mesmo - apenas palavras, apenas rótulos ... Pois não é a palavra que se usa que determina o significado que uma pessoa tem para nós. Apenas para servir de exemplo, lembro-me dos "amigos" que na verdade não passam de conhecidos, ou daquela pessoa que vimos apenas uma vez (um "conhecido", portanto), mas que no entanto marcou-nos mais do que alguns "amigos" nos marcam ao longo de uma vida inteira...
Então, assim sendo, se não passam de palavras, porquê o grande impacto que se sente quando saõ atribuidas? Dois estranhos que um dia decidem rotular-se de amigos, dois amigos que um dia decidem rotular-se de namorados, dois namorados que um dia decidem rotular-se de amigos... Porque é que a atribuição destes rótulos, que não passam de meras palavras, conseguem jogar tanto com os nossos sentimentos, alterá-los e modificá-los, a ponto de alterar os nossos actos e gestos, e até mesmo a pessoa que nós fomos até então?
Títulos e Rótulos
Halloween
É verdade. Por desleixo, preguiça, ou sabe-se lá o quê (o facto da mãe não me ter cedido uma abóbora este ano também contribuiu certamente), não fiz uma Jack-o-lantern. Estou a ir contra todos os meus princípios - afinal, Halloween sem Jack-o-lantern não é Halloween... Mas hey, a vida é feita de encantos e desencantos. "É a vida..."
Mas nem por isso deixo de postar uma colecção delas, muito mais giras do que qualquer uma que eu poderia fazer... Afinal, é Halloween, há que postar Jack-o-lanterns! :)
Feliz Dia das Bruxas a todos! :)
Eu gosto especialmente daquela com a cabeça bicuda - a 2ª a contar da direita, na fila de baixo. Acho-a tão trolha que até cai na categoria do amoroso! :) Para o ano, tento uma assim!
PARABÉNS!
Feliz aniversário a todos os que fazem anos hoje. Embora não conheça ninguém que faça (espero sinceramente não estar a meter a pata na poça...), a verdade é que encontrei este filmezeco, e achei-o tão amoroso... tive de o pôr aqui no blog!
Parabéns, portanto! :) (Para todos aqueles a quem eu me esqueci de dar os parabéns no ano que passou, considerem isto como uns parabéns atrasados... afinal, mais vale tarde do que nunca!)
(...e que isto sirva como prova de como TUDO é mais giro do que estudar leucemias e linfomas, quanto mais não seja espreitar o youtube e descobrir o que é que ele nos oferece quando a gente pesquisa por happy birthday....)
O dia de hoje
Hoje são cancros das células linfóides.
E são 30 perguntas de um exame dos antigos.
E é revisões de cárdio até chegar à hipertensão.
É triste perceber que TUDO no nosso plano diário é virado para o estudo, e que nada desse estudo nos faz vibrar.
... Porque é que o exame não é já hoje?
Acho que estou a precisar de férias. Das valentes.
Vazio
Sento-me à secretária, embrulhada nos meus pensamentos, com um vazio surpreendente que preenche todo o meu ser. Com essa música como plano de fundo, a olhar para o indefinido, e a esperar que amanhã o vazio já tenha desaparecido...
... no entanto, sem grandes esperanças.
Try Again
"You try, and you fail. You try, and you fail. But the only true failure is to stop trying."
Lisboa vs Longe
Ficar em Lisboa, ou ir para longe, eis a questão. A indecisão é tramada, especialmente quando já há uma data (finalmente!) para a escolha do hospital que vai testemunhar a minha passagem de uma incompetente recém-médica para uma ligeiramente menos incompetente médica com 1 ano de experiência, ao longo do ano de 2009.
Ficar em Lisboa ou ir para longe.... Eis a questão.
Aqui (Almada)...
... ou Aqui (Lisboa)...
... ou Aqui (Torres Vedras)...
... ou Aqui (Castelo Branco).
Decisões, decisões, decisões...
(Aceitam-se, de bom grado, opiniões e sugestões!)
Vocês sabiam...
... Que o chocolate quente se come à colher?
Pois eu não sabia. E só aprendi quando tentei beber o chocolate quente, e reparei que era tão espesso que mal escorria da caneca em que foi servido.
... E vai mais uma figura triste para a colectânea de figuras tristes em público aqui da Ana!
LOL
50 anos a "estrumpfar"
Ode à Procrastinação
Ó falta de vontade, ó vã preguiça,
Desta pasmaceira, a quem chamamos procrastinar!
Ó fraudulento aprendiz, que se atiça,
Passando horas frente ao Harry, sem o estudar!
Que castigo tamanho e que injustiça,
Fazes no cérebro vão, já farto de pensar!
Que intuilidades, que tédios, que tormentas,
Que adiamentos fúteis representas!
~ Ana ~
(mais uma vez, qualquer semelhança a Camões é a *mais pura* das coincidências!)
Uma definição
"Love is a temporary madness. It erupts like an earthquake and then subsides. And when it subsides you have to make a decision. You have to work out whether your roots have become so entwined together that it is inconceivable that you should ever part. Because this is what love is. Love is not breathlessness, it is not excitement, it is not the promulgation of promises of eternal passion. That is just being "in love" which any of us can convince ourselves we are.
Love itself is what is left over when being in love has burned away, and this is both an art and a fortunate accident. Your mother and I had it, we had roots that grew towards each other underground, and when all the pretty blossom had fallen from our branches we found that we were one tree and not two."
in Captain Corelli's Mandolin
O valor dum paper-clip
Que dizer quando nos apercebemos que aqueles projectos fantásticos, que qualquer um de nós tem e no entanto sabemos que são demasiado estranhos para dar em alguma coisa, até podem tornar-se realidade?
Kyle MacDonald mostra-nos que isso não é verdade. Não a parte de um projecto fantástico se tornar realidade, nada disso. Mas sim a parte que diz que os projectos fantásticos são demasiado estranhos para dar em alguma coisa.
Este rapaz lembrou-se um dia de trocar um paper-clip. E com isso, conseguiu uma casa. Dele. Ao fim de apenas um ano. Sem pagar, apenas trocando vezes sem conta (14 vezes, para dizer a verdade) o que ele ía adquirindo de trocas anteriores.
É preciso é imaginação. O resto, vem por acréscimo! :)
E tu, quanto é que tiveste de poupar/quanto é que estás a poupar para comprar uma casa? :)
By the way, a casa do paper-clip vermelho está agora para troca. Alguém inetressado?!
Auto-diagnóstico - ICPPVP
Como médica que sou (afinal, até já recebo correspondência nesse sentido), sinto-me finalmente com credibilidade suficiente para fazer auto-diagnósticos. Sem medo, e com muita confiança. E, como tal, faço o meu primeiro, e publico-o aqui no blog.
Os sintomas são inconfundíveis - fobia, taquicárdia, vontade de bater com a cabeça nas paredes, ataques de pânico intervalados com ataques de choro, incapacidade de concentração e sentimento de frustração ao fim de 2 minutos após contacto com agente etiológico... que neste caso, é o capítulo de valvulopatias do Harrisons. É verdade, por mais que eu me sente em frente àquilo, por mais que eu leia, e por mais que eu pense "ena pá! Desta vez ficou mesmo!!", sempre que vou a resolver exames, desiludo-me. Big time. O que faz com que aquele meu "ena pá! Desta vez ficou mesmo!!" não seja mais que um delírio - mais um sintoma a acrescentar à panóplia de sintomas já mencionados acima.
Deste modo, e apesar dos sintomas serem ainda leves, é no entanto seguro afirmar que eu sofro de Incapacidade Crónica Para Perceber Valvulopatias Pelo Harrison's. ICPPVP (nós médicos adoramos siglas!).
É chato... diz-se por aí que o comprimido que promete a cura para isto ainda está em ensaios de fase III, e a fase IV (aquela em que o medicamento passa a ser vendido ao mundo) apenas começa dia 21 de Novembro. Um dia demasiado tarde.
Portanto, mais vale prevenir todo e qualquer contacto com o agente etiológico, de modo a ter melhoria sintomática. Até porque existe uma evidência clara de que a persistência de sintomas pode levar a Depressão, e, em fases mais avançadas, a danos mentais permanentes.
Lol, Silverdrop, não eras tu que querias um Harry em segunda mão?! :)
A Revolta Canina
... Cá se fazem, cá se pagam.
Pois se eu impeço o Quincas que admirar a Lusa, o Quincas impede-me de ter bom humor matinal... usando o meu quarto como casa de banho nocturna.
São 08:47 da manhã, e acreditem - estou de mau humor!
:)
Histórias de um dia só
A noite que passou foi atribulada. O Quincas (espécie canina que partilha a casa comigo) não se calava. Aproveitou a escuridão da noite para uivar sem ser visto... Mas ouviam-no. Mandava-se calar, o que funcionava... durante 5 minutos. Fui dar com ele no quintal da vizinha, esta manhã quando acordei. Ao que parece, o vizinho de trás tem uma cadela (a Lusa) que captou a atenção do Quincas nos últimos tempos. O cão, apoderado de um brilhantismo que apenas o amor pode dar (sim, porque de outra forma não sei como é que ele elaborou tamanho plano) conseguiu encontrar uma estratégia luminosa para saltar o muro que separa o meu quintal do da vizinha. E plantava-se ao canto do quintal da vizinha, a olhar com olhinhos saudosos lá para cima, à espera de ver a sua amada, certamente. Pelos vistos, a casa da vizinha tem melhor vista sobre a Lusa do que nossa. Estraguei-lhe os planos quando decobri como é que ele saltava o muro, e arranjei eu um esquema ainda mais inteligente que o dele para o impedir. O desvairado do cão, coitado, foi atravessado pela loucura, e passou uma hora a andar às voltas, a tentar passar por onde já não podia, e a cometer vezes sem conta o mesmo erro. Pobrezito.
Enquanto isto, eu lá ía estudando, a ouvir os "THUMP" de 2 em 2 minutos, que revelavam que o cão persistia na sua luta para tentar saltar o muro, que acabava sempre com ele a cair desajeitadamente. Uma vez por outra um "caííím" ou um "béu béu", mas nem por isso deixei de acabar de rever pneumo, e ainda completar mais um exame.
Por falar em exames, chego à conclusão que a minha sabedoria tem um limite - de há 2 meses para cá tenho estudado muito, mas o resultado nos exames que vou fazendo é sempre o mesmo. Nem melhor, nem pior. Sempre o mesmo, com uma variação de apenas 4 pontos. O que me leva a concluir que se calhar mais vale desistir de estudar - pelos vistos não me está a levar a lado nenhum! A minha teoria é que é-me impossível acrescentar informação nova - tenho o cérebro sobrelotado de momento. Tudo o que entra apenas substitui algo que já lá estava, e que até era importante. Vou pensar em gozar umas férias brevemente! :)
Entretanto, apercebi-me que hoje é 17 de Outubro - dia em que saía o mapa de vagas para o internato médico de 2009. Passei muitos dos meus intervalos a espreitar a net a ver se já tinha saído, mas não. Organização não reina em Portugal, e o Internato Médico não foge a essa regra. Mas há que ter fé - afinal, o dia só acaba à meia noite, ainda têm umas horitas para cumprirem o que prometem...
E no meio de tanto latir, tanto THUMP, tanta página de matéria para rever e perguntas para resolver, e tantos intervalos para ver se já havia uma lista de hospitais para os quais posso concorrer para o ano, chegou também o carteiro. Com uma carta endereçada a "Exma. Senhora Dra. Ana (...)". É caso para dizer - WOW! :D Pergunto-me se o carteiro terá reparado que alguém prestes a ser gente habita nesta casa! lol
Não era nada de mais - apenas a revista da Ordem dos Médicos. A minha primeiríssima revista da ordem dos médicos!! Ainda pensei em emoldurá-la. Mas não... quanto muito penduro antes o papel do endereço... a minha primeira "Exma. Senhora Dra. Ana (...)" em letras impressas. Dá gozo ver, é verdade. Curiosamente, mais gozo do que aperceber-me que já reconheço praticamente todas as páginas do meu Harry. Engraçado como estas coisas são.
... e assim se passou mais um dia. Será que amanhã se repete tudo novamente?
O meu mundo que não existe
... Onde as pessoas não são corruptas, e não tecem grandes esquemas para conseguirem o que querem, sem escrúpulos e sem medo de pisar os outros, apenas para conseguirem saciar os seus desejos fúteis sem o mais pequeno dos esforços...
... não existe.
Temos pena. Porque o mundo poderia ser um sítio bem melhor para viver caso não fosse povoado por gente tão estúpida.
Tempo de revisões
IRRA! Até que enfim, que eu já não podia com o estudo propriamente dito (isto é, passar dias em frente à secretária a sublinhar e a decifrar). Agora passamos à fase de revisões - esfolhear, e rezar para que as coisas me pareçam minimamente familiares, portanto! :)
Haja fé!
.. E força de vontade para empinar listagens e tabelas!
... e também muita pachorra!
... e, já que estamos numa de pedincho, que haja gelado para a sobremesa logo ao jantar - afinal, este dia deve ser comemorado.
... e chocolate, também. Endorfinas vão ser necessárias. Portanto, muuuuuito chocolate - essa bela fonte de felicidade e prazer condensadas num único quadradinho pequenino... de cada vez!
... Ah, e já agora, se me quiserem oferecer uma viagem a uma ilha paradisíaca qualquer, algures por Dezembro, também a recebo de boa fé! :)
... E, se não for pedir demais, o carro, a casa com quintal, o piano de cauda, a viagem a Paris, um aumento estrondoso da mesada, o euromilhões...
(E pronto, aconteceu. Sempre ouvi dizer que o Harry dáva cabo das pessoas - pelos vistos, tb eu fui afectada! Perdi o juízo de vez!)
Reality check
"The truth is sometimes things aren't exactly what you always imagined... they're even better!"
O segredo d'O Piano
Há anos aprendi uma música. Sabia as teclas todas, sabia onde e quando tocar nelas, sabia tudo isso. Sabia até a velocidade, o ritmo, e mesmo o mindinho da mão direita ganhou alguma força... pelo menos o suficiente para realçar um pouco a melodia. E, no entanto, sempre que eu tentava tocar o The Heart Asks for Pleasure First, por mais que eu tentasse, não conseguia. Ela não ficava em nada parecida com isto, mas sim uma junção de notas tocadas a alta velocidade, dando quase que um tom de barulho à música.
Pois hoje, e mais uma vez graças ao youtube, descobri o que estava a fazer de mal. É preciso (é mesmo necessário) tocar a música com o 3ª pedal do piano...
Wow! A diferença! :) Porque é que não disseram isso mais cedo?! :)
A verdade é que a música está muito esquecida... mas agora que descobri como tocar isto de modo a que soe a isto, há que reaprender! :)
Finalmente!
IRRA! Que às vezes, é preciso esperar demasiado tempo para conseguirmos algo perfeito!
Foram dois anos. Dois longos anos... a remediar, a passear por lojas e a rapar frio (ok, isto está um tanto ou quanto exagerado). Mas caramba! Depois de muito sofrer, de muito procurar, e de duras e longas constipações provocadas por falta de agasalho, finalmente (FINALMENTE !!! ) achei-o!
Foi hoje! Saí de casa de propósito para o comprar. Levei comigo o meu talismã da sorte no que toca a moda (uma amiga de longa data), e fui às compras. E nem foi preciso procurar muito.
"Entramos na Springfield?"
"Ok."
Foram precisos 5 minutinhos apenas para me deparar com ele - O casaco dos meus sonhos! :)
Hehehe, o Inverno já pode chegar. Venha ele - eu estou preparada!
Veneza
... bela cidade essa, que mesmo à distância é capaz de pôr dois tolos apaixonados, que nunca lá foram, muito felizes em datas especiais! :)
Pedido de Devolução
Eu tinha um neurónio,
Um neurónio pequenino,
Vivia no meu cérebro,
E vivia lá sozinho.
Era triste a sua vida,
Vítima de maus tratos e exploração,
Trabalhava noite e dia,
Sendo a hora da novela a única excepção.
Até que um dia o neurónio fartou-se,
Fez as malas e partiu.
"Estou fartto do Harry! Acabou-se!"
E foi assim que ele fugiu.
O meu cérebro está agora entristecido,
Sem um neuróniozito sequer!
Se porventura encontrar o meu neurónio desaparecido,
Faça o favor de o devolver!
As condições melhorarão, evidentemente,
E o contrato de trabalho será revisto.
Mas devolvam-me o neurónio rapidamente,
Que sem ele, eu não consigo estudar isto!
~ Ana ~
The art of Racing in the Rain
Enzo em Português, trata-se de um livro escrito por Garth Stein. E foi este o segundo livro que alguma vez me pôs a chorar... (O primeiro foi O Meu Pé de Laranja Lima).
Tenho de admitir que tive alguma relutância em comprar o livro - afinal, uma história narrada por um cão filósofo... Parecia-me fantochada a mais para ser um bom livro. Mas os olhinhos do cão que está na capa conquistaram-me, e eu precisava seriamente de algo que servisse de distracção nas viagens de comboio. Portanto, comprei o livro... e não me arrependi. Ok, não é o livro do ano, nem é uma obra incrivelmente fantástica. Mas pôs-me a chorar, o que já é dizer alguma coisa. :)
Sometimes I believe...Sometimes I really do believe!
Mais um...
Prometi a mim mesma não ligar o computador durante 24 horas. Ontem à noite, até o deixei arrumado numa prateleira, debaixo de alguns livros, para fugir à tentação. Mas mal acordo e desço as escadas para ir tomar o pequeno almoço, encontro um alvoroço tal de uns pais que se preparam para sair de casa, deixando apenas um recado - Diz à cunhada para vir cá jantar!... E pronto, lá, se foram grandes planos, e lá liguei eu o pc. E mais do que o messenger, vi ainda os blogs do costume.
Vi um blog de um professor, que ontem pelos vistos celebrou os 30 anos de ter acabado o curso. Uau! 30 anos... Não há-de ele ser alvo da minha admiração, com tamanha experiência em cima. Eu conto apenas com 3 míseros anos, não de acabar o curso, mas de ser frequentadora habitual das enfermarias dos hospitais espalhados pela cidade de Lisboa, sempre no papel de aluna à espera de ordens, e ainda nunca no papel de médica com decisões importantes a tomar. E li o post do meu professor. Li sobre a sua decisão repentina de vir um dia a ser médico, li sobre como ele não se arrependeu, e li todo o gosto que ele sente pela profissão. Gosto esse que também eu já senti (eu sei que sim!), mas que aos poucos, e devido a um estúpido exame, se tem vindo a desintegrar, e a pôr em causa este rumo que decidi em tempos traçar na minha vida.
Deparo-me diariamente com pormenores que sei nunca conseguir decorar (será que é assim tão importante sabê-los?!), leio coisas que sei que importam para os doentes, mas que sem a prática não fazem sentido, estudo gráficos e tabelas e parágrafos intermináveis... Raios, eu quero estudar pessoas! Quero tê-las à minha frente, fazer-lhes perguntas, e lentamente ir progredindo nos fluxogramas mentais que fui construindo ao longo de 6 anos de curso... fluxogramas esses que agora se encontram esbatidos na memória, substituidos por informação sobre genes e percentagens estupidas, muitos relativos a doenças raríssimas que nunca vou encontrar na vida, mas que mesmo assim me obrigam a decorar. Tudo por causa de um estúpido exame.
Ignoro os AVCs e a Diabetes, para dar lugar a Sindromes de Lhermite e doenças de Franklin e de Seligman. Fará isto algum sentido?!
Tudo bem, compreendo a existência do exame. Mas ao menos que nos ponham a aprender coisas que nos serão úteis, coisas que poderemos usar no futuro. Não nos ponham a decorar factos que 1 mês após o exame (se calhar nem tanto) já estão confundidos e esquecidos...
...E por favor, não nos tirem o gosto pela profissão. Isto acima de tudo.
Obrigado, professor, pelo seu post. Precisava de algo que me lembrasse que isto é passageiro, e que daqui a 30 anos também eu estarei a comemorar, e terei esquecido esta fase de estupidificação que me obrigam a ultrapassar.
Forrest Gump
Jenny Curran: Do you ever dream, Forrest, about who you're gonna be?
Forrest Gump: Who I'm gonna be?
Jenny Curran: Yeah.
Forrest Gump: Aren't, aren't I going to be me?
Carta
Não falei contigo
Com medo que os montes e vales que me achas
Caíssem a teus pés...
Acredito e entendo
Que a estabilidade lógica
De quem não quer explodir
Faça bem ao escudo que és...
Saudade é o ar
Que vou sugando e aceitando
Como fruto de verão
Nos jardins do teu beijo...
Mas sinto que sabes que sentes também
Que num dia maior serás trapézio sem rede
A pairar sobre o mundo
Em tudo o que vejo...
É que hoje acordei e lembrei-me
Que sou mago feiticeiro
Que a minha bola de cristal é folha de papel
Nela te pinto nua, nua
Numa chama minha e tua.
Numa chama minha e tua
Desconfio que ainda não reparaste
Que o teu destino foi inventado
Por gira-discos estragados
Aos quais te vais moldando...
E todo o teu planeamento estratégico
De sincronização do coração
São leis como paredes e tectos
Cujos vidros vais pisando...
Anseio o dia em que acordares
Por cima de todos os teus números
Raízes quadradas de somas subtraídas
Sempre com a mesma solução...
Podias deixar de fazer da vida
Um ciclo vicioso
Harmonioso ao teu gesto mimado
E à palma da tua mão...
É que hoje acordei e lembrei-me
Que sou mago feiticeiro
Que a minha bola de cristal é folha de papel
Nela te pinto nua, nua
Numa chama minha e tua.
Numa chama minha e tua.
Desculpa se te fiz fogo e noite
Sem pedir autorização por escrito
Ao sindicato dos deuses...
Mas não fui eu que te escolhi.
Desculpa se te usei
Como refúgio dos meus sentidos
Pedaço de silêncios perdidos
Que voltei a encontrar em ti...
É que hoje acordei e lembrei-me
Que sou mago feiticeiro...
...nela te pinto nua, nua
Numa chama minha e tua.
Numa chama minha e tua.
Ainda magoas alguém
O tiro passou-me ao lado
Ainda magoas alguém...
Se não te deste a ninguém
Magoaste alguém
A mim... passou-me ao lado.
A mim... passou-me ao lado.
Plano de estudo para hoje
São 8:30 da manhã (ou quase).
Pois daqui a menos de 12 horas, já terei estudado:
- Terapêutica e Biologia Transfusional
- Transplante de Células Hematopoiéticas
- Henorragia e Trombose
- Alterações das Plaquetas e dos Vasos Sanguíneos
- Mais umas quantas perguntas do "impossível exame de 2006"
Logo apareço para dizer se deu resultado... :)
Auguries of Innocence
To see a world in a grain of sand
and heaven in a wild flower
Hold infinity in the palms of your hand
and eternity in an hour.
~William Blake~