Prometi a mim mesma não ligar o computador durante 24 horas. Ontem à noite, até o deixei arrumado numa prateleira, debaixo de alguns livros, para fugir à tentação. Mas mal acordo e desço as escadas para ir tomar o pequeno almoço, encontro um alvoroço tal de uns pais que se preparam para sair de casa, deixando apenas um recado - Diz à cunhada para vir cá jantar!... E pronto, lá, se foram grandes planos, e lá liguei eu o pc. E mais do que o messenger, vi ainda os blogs do costume.
Vi um blog de um professor, que ontem pelos vistos celebrou os 30 anos de ter acabado o curso. Uau! 30 anos... Não há-de ele ser alvo da minha admiração, com tamanha experiência em cima. Eu conto apenas com 3 míseros anos, não de acabar o curso, mas de ser frequentadora habitual das enfermarias dos hospitais espalhados pela cidade de Lisboa, sempre no papel de aluna à espera de ordens, e ainda nunca no papel de médica com decisões importantes a tomar. E li o post do meu professor. Li sobre a sua decisão repentina de vir um dia a ser médico, li sobre como ele não se arrependeu, e li todo o gosto que ele sente pela profissão. Gosto esse que também eu já senti (eu sei que sim!), mas que aos poucos, e devido a um estúpido exame, se tem vindo a desintegrar, e a pôr em causa este rumo que decidi em tempos traçar na minha vida.
Deparo-me diariamente com pormenores que sei nunca conseguir decorar (será que é assim tão importante sabê-los?!), leio coisas que sei que importam para os doentes, mas que sem a prática não fazem sentido, estudo gráficos e tabelas e parágrafos intermináveis... Raios, eu quero estudar pessoas! Quero tê-las à minha frente, fazer-lhes perguntas, e lentamente ir progredindo nos fluxogramas mentais que fui construindo ao longo de 6 anos de curso... fluxogramas esses que agora se encontram esbatidos na memória, substituidos por informação sobre genes e percentagens estupidas, muitos relativos a doenças raríssimas que nunca vou encontrar na vida, mas que mesmo assim me obrigam a decorar. Tudo por causa de um estúpido exame.
Ignoro os AVCs e a Diabetes, para dar lugar a Sindromes de Lhermite e doenças de Franklin e de Seligman. Fará isto algum sentido?!
Tudo bem, compreendo a existência do exame. Mas ao menos que nos ponham a aprender coisas que nos serão úteis, coisas que poderemos usar no futuro. Não nos ponham a decorar factos que 1 mês após o exame (se calhar nem tanto) já estão confundidos e esquecidos...
...E por favor, não nos tirem o gosto pela profissão. Isto acima de tudo.
Obrigado, professor, pelo seu post. Precisava de algo que me lembrasse que isto é passageiro, e que daqui a 30 anos também eu estarei a comemorar, e terei esquecido esta fase de estupidificação que me obrigam a ultrapassar.
Hora da sesta
10 years ago
3 comments:
Boa noite
Se deseja ter 30 anos de experiência, pelo menos passe-os devagar sem pressas pois vai ver que é rápido, ah, ah ,ah.
Comprimentos
LUIS 14
tu les o blog dele, eu leio o teu e cada um modifica-se a cada palavra que lê.
No meu caso, vou ganhando medo, vou ficando receosa do que está ainda para vir, das mil e umas tempestades pelas quais terei de passar enquanto mísera estudante...ao mesmo tempo vou aprendendo que o desespero vive de maos dadas com o estudante de medicina e que o truque para não sofrer nao é fazendo-o frente, mas sim procurar no nosso dia a dia o motivo que nos levou a enveredar por este caminho
:) Não tenhas medo. Não vale a pena! ... e obrigado!
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