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Indiferença

É simples... fria, mas simples, toda a indiferença que se faz sentir nas enfermarias. Os doentes vêm, os doentes vão, alguns ficam-se sem nunca mais acordar... e no entanto, tudo continua. Indiferentemente. Como se nada fosse. Se for preciso, ainda se ri e diz umas piadas. Para aguentar tamanhos erros, tamanhas barbaridades cometidas, tamanhas vidas perdidas.

É a festa (será, talvez, mais orgulho?) quando se salva uma vida. Mas é a indiferença quando ela se perde. Não importa de quem a culpa. Da doença, do doente, do médico, do enfermeiro, do tão famoso "sistema". Não importa. Perdeu-se... paciência.


Será a vida coisa tão banal para merecer tal desprezo?


...

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6 comments:

Sandra said...

Por exemplo:

Quando um doente que observo tem uma doença "sem solução" nada faço em prol de melhorar o seu bem estar (aliás,só pioro com as minhas inúmeras questoes)...

Quando me pedem ajuda e sorrio como se os fosse auxiliar (algo para o qual não tenho poder para fazer) lá estou eu a fomentar esperanças em vão...

que é tudo isto senao pequenos exemplos de indiferença à vida, ao sofrimento humano?

é mau, mas esta é a realidade: podemos ser contra a indiferença, mas recorremos a esta sempre que as coisas ficam mais complicadas... :S

vou ter de ser sincera, podemos nós trabalhar neste meio e não sermos indiferentes?

ps: talvez se estivéssemos mais tempo a lidar com o lado humano ao invés de trabalharmos com livros e mais livros, a indiferença pudesse ser abolida

Ana said...

"vou ter de ser sincera, podemos nós trabalhar neste meio e não sermos indiferentes?"



Eu espero, muito sinceramente, que sim... pois no dia em que eu passar a ser indiferente, algo mudou em mim... e é algo que eu não quero que mude.

Antes a revolta que a indiferença.

Ana said...

... e já agora, um sorriso não se traduz na fomentação de esperanças em vão. É algo que se dá, sem custo acrescido, e que, quem sabe, pode melhorar um pouco o dia a outra pessoa...

Mesmo quem vai, decerto, morrer, precisa segurantente de receber sorrisos e outras coisas tais.

Sandra said...

que fazes tu quando morre alguém "à tua frente" no hospital? fazes algo de particular?

a pessoa morre e como estudantes nós acabamos por seguir o rumo que o nosso tutor segue, se ele sai da sala, la saímos nós, se ele começa a examiná-lo, lá examinamos também, ... fazemos de tudo menos tratar de forma digna a vida que acabou de se perder.
para mim, agir assim é também ser indiferente. como podemos nós sermos frios perante tamanha perda? como?
o k é certo, somos...

posso ter transparecido a ideia errada: eu nao sou a favor da indiferença, muito longe disso. acontece é que antes via-a como algo à qual podia ser imune. Agora, encaro como algo que o tempo irá procurar impregnar na minha pessoa. espero é ter a força para em toda a minha vida profissional lutar contra esta.

anacruz said...

Podemos sempre escolher ser diferentes dos exemplos que temos, ainda que superiores a nós...e claro, isso não é nada fácil e trás dissabores! Mas vale sempre a pena quando se consegue, nem que seja o mínimo, por um doente ;)

Os sorrisos, os pequenos gestos, um olhar ternurento...coisas que confundem e são desperdício para muita gente, dão o maior sentido à minha entrega aos outros, esses que estão doentes...fazendo da Medicina uma contínua missão, uma vocação...

Sandra said...

a realidade nao é tao florida como voces a fazem... a indiferença anda aí e nós também fazemos parte dela...

acho bem que tenhamos essas motivaçoes, porque sao elas que permitirão que façamos pekenas diferenças