Lembro-me dos meus tempos de criança, quando acordava a meio da noite e tinha medo. O silêncio que se ouvia naquela casa assustáva-me, assim como me assustavam as imagens imaginadas de todas as coisas terríveis que poderiam pôr termo àquele silêncio ensurdecedor. A pouco e pouco começava a ouvir o meu coração bater, a minha respiração acelerar.... Mas o silêncio continuava. Escutava com toda a atenção, numa tentativa de conseguir ouvir algum aviso antes da quebra do silêncio, mas nada... o silêncio continuava, e eu continuava assustada até o cansaço se apoderar de mim, e adormecer novamente. Quando acordava na manhã seguinte, com a mãe a cantarolar enquanto fazia o pequeno almoço, o irmão a gritar por alguma razão, o pai a dizer alguma coisa, com todo aquele ruído que me era familiar, pensava em como o meu medo da noite anterior não fazia sentido, e sabia que nunca mais iria ser tola a ponto de ter medo do silêncio da noite... mas o cenário repetia-se logo na noite seguinte.
Hoje torno a ter medo do silêncio. Apesar de todo o ruído à minha volta, o silêncio assombra-me, e dou por mim a ouvir o meu coração bater, a minha respiração mais profunda... quero forçar a quebra deste silêncio, pôr um fim de algum modo, acabar com este receio... mas sou incapaz. Então, permaneço assim, simplesmente a escutar, esperando ansiosamente que o cansaço se apodere de mim, e eu torne a acordar num mundo que me é familiar uma vez mais. E a seguir, olhar para trás, e ver como este medo não fazia sentido, que era apenas mais uma tolice de quem não tem mais nada em que pensar....
Hora da sesta
10 years ago
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