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"Cardióloga"

Lembro-me, há muito muito tempo, antes de ter visto os horrores do capítulo de cardiologia do Harry (palavra de honra que se aquilo é inglês, eu preciso de férias, pois para mim é incompreensível!), antes mesmo de ter entrado para o curso, que o grande objectivo era "entrar para medicina, e especializar-me em pediatria ou cardiologia". Mas isso foi há muito tempo. Quando olhar para crianças me fazia sorrir (coisa que não se perdeu ao longo do curso), e quando pensar num órgão tão poético como é o coração me fascinava...

Quando tive cardiologia, aquela primeiríssima aula no 5º ano, sentada num anfiteatro juntamente com apenas 2 ou 3 colegas mais (um exame aproximava-se, e a malta estava a estudar), o fascínio pelo coração aumentou. "Wow!", pensei eu. O professor era genial, daqueles que dá gosto ouvir, pois o entusiasmo e o verdadeiro gosto pela profissão se tornam contagiantes! Depressa dei por mim a vibrar com aquelas matérias. Os "lub-dubs" cardíacos, os "luuffff-dub" dos sopros sistólicos, toda aquela sinfonia de sons imitados... Simplesmente Wow!

Mas o estágio prático revelou-se fraquito. Metade da equipa de médicos estava de férias, culminando com grande grupos de alunos encostados a paredes (certamente não cairiam enquanto houvesse alunos de medicina a segurá-las!) a "aprender" toda a magia daquele orgão - isto acabou inevitavelmente por lhe tirar a magia toda. As aulas teóricas ainda valiam a pena, mas as práticas, se existiram, eu não dei por elas passar.

E hoje, encontro-me no fim de um curso sem saber nada que preste de cárdio. Entristece-me, mas a tristeza é superada de longe pela frustração que é olhar para páginas de cardiologia do Harry e tentar decifrar o que eu suspeito ser indecifrável.

Mas hoje, num momento de menor lucidez, talvez, deram-me um tratado de cardiologia. Assim... "Ah, já tenho este livro... alguém o quer?", pergunta um interno. Inevitavelmente aceitei... e vim no comboio a esfolhear, a absorver aquelas imagens de corações pintados, e ECGs traçados... e novamente, aquele Wow! inicial foi substituindo a fobia cardiológica que se foi instalando ao longo das leituras do Harry.

Dizem-me que eu seria uma excelente Clínica Geral (especialidade que agora encanta os meus dias!). Mas também há quem diga que, se eu tiver boa nota no exame de acesso à especialidade, acabarei por escolher outra coisa qualquer. Eu digo prontamente que não, que o internamento me satura, que as consultas é o que eu mais gosto, que o facto de seguir doentes de todas as idades, e acompanhá-los na evolução das suas vidas é realmente o que mais me fascina.


... Mas hoje, ao ver aqueles capítulos enumerados num índice de um tratado de cardiologia despertou novamente o fascínio que ainda existe pelo coração. Talvez não considere tirar a especialidade de cardiologia (afinal, penso que um bom cardiologista deve ao menos COMPREENDER o capítulo de cárdio do harry!), mas não tenho dúvidas que o meu novo livro vai ser lido com um interesse que não encontro para ler outros que tenho pousados na prateleira, à espera de atenção...!

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