Carpe Diem

Há pouco menos de um ano, aqui no blog, eu fiz uma pergunta num dos posts - qual o significado de uma amizade?.

Pois, tendo em conta o mês que passou, com todas as conversas que ocorreram, cheguei a uma conclusão - É poder partilhar tudo - o óptimo, o bom, o menos bom, o mau, o péssimo - e saber a cada instante que a outra pessoa estará ali para nos apoiar sempre. Não se desvia, não se assusta, não vacila sequer. Começou ali, e ali há-de ficar até ao fim. Contamos com o seu tempo, a sua atenção, o seu ombro amigo... E saber que, por mais horriveis que sejam as situações do dia a dia em que nos metemos, partilhá-las com o nosso amigo fará com que tudo vá voltando novamente à sua ordem habitual. E saber desde o início que a partilha dessa preocupação, mesmo que não resulte em mais nada, leva ao menos à fortificação da amizade há muito estabelecida.

No outro dia pus-me a ver um filme dos anos 80, Stand By Me (recomendo), que acaba com uma constatação - "I never had any friends later on like the ones I had when I was twelve. Jesus, does anyone?" Eu acho que sou verdadeiramente sortuda - os amigos quando tinha 12 anos eram óptimos. Mas agora, não ficam nada atrás.

=)

Tenho (finalmente!!) um fato formal! E é tão lindo! E, ao contrário do habitual, com ele vestido, até pareço uma "sô dotôra graúda e crescida", e não este "faz de conta de sô dotôra" habitual, a deambular pelo hospital com calças de ganga, t-shirt, ténis, e bata por cima só para tentar enquadrar-me mais ou menos na profissão. (Note-se que o fato não é para ser usado para deambular pelo hospital. Aí continuará a ser a bela da calça de ganga completementada pelo belo do téni ou da sabrina confortável...)

Wow! Acho que sempre é verdade que assim arranjadinha eu até pareço outra... =) (A ponto de não me reconhecer ao espelho - é crítico...)

E os sapatos? Absolutamente fantásticos! São tão lindos que nem parece que fazem parte da MINHA colecção, outrora de sapatos confortáveis e práticos, e agora com sapatos XPTOs....!

Estou fascinada perante este meu make-over radical por uma tarde! =)

(eu divirto-me... dizem que isto pode ser tomado como primeiro sintoma de gaja enlouquecida por trabalhar demais, descansar demenos, e afectada pela chuva.... pode ser que seja um síndrome passageiro, e que eu volte ao meu estado habitual em breve, quando o sol voltar a surgir...)

E pronto, um mês depois de ter começado a trabalhar, mudo de serviço. É trágico. Não devia ser permitido ter um primeiro estágio de trabalho tão bom e tão óptimo como foi o meu, porque sinceramente... bater isto, vai ser quase impossível. =)

Vai deixar muitas saudades...

- O senhor António é seguido em que centro de saúde?
- Ora... se eu tenho lá médico de família...
- Oh senhor António! Isso pode lá ser? Já viu, tem tantos problemas, e sem um médico?
- Pois... se a senhora dra. me quisesse na sua consulta...
- Eu?! Oh senhor António, isso é que o senhor António não quer! Então agora vai pedir a uma médica nova e inexperiente como eu? Não! Eu vou ver se lhe arranjo um médico para si, mas o senhor António não me quer a mim como médica. Quer antes um médico experiente, velhinho, com barbas brancas! Isso é que era!
- Oh senhora dra.... Não pode ser mesmo? É que eu gosto de si...


=)
São estas coisas que me levam a saír sorridente depois de cada um dos bancos.

Curiosamente, é quando nos desviamos um pouco do nosso rumo que marcamos a diferença. Não são os 6 anos agarrados a calhamaços, não são as 24 horas de banco, não é saber a resposta na ponta da lingua a todas as questões que nos colocam, não é ter média 20, nem saber fazer descrições anatómicas ao pormenor, não é quando interpretamos análises brilhantemente... nada disso. Aí existe todo um sistema a funcionar - se não for eu, há-de ser outro.

Curiosamente, marca-se a diferença quando nos desviamos um pouco do nosso rumo. Ontem à noite, quando ía a entrar de banco, lembrei-me de passar na enfermaria. Só para deitar os olhos aos doentinhos. Nada me obrigava a fazê-lo, não tinha exames a ver, nem doentes instáveis, nada disso. Simplesmente tinha um tempinho para queimar, e decidi dar lá um pulinho.

Era hora do jantar da equipa de enfermagem. Estavam todos presentes, em alerta a qualquer sinal que fosse emitido das campainhas dos doentes. Mas estavam todos concentrados num mesmo sítio.

Passei no corredor, ía olhando para os quartos. E é quando passo num deles que dou conta de uma doente caída. Prestes a chorar, pois ela não conseguia chegar à campainha, e os doentinhos que partilhavam o quarto com ela não o fariam por ela, pois as suas condições não os permitiam. Pergunto-lhe o que se passou, e ela desta num choradeiro. Aparentemente, já há mais de um quarto de hora estava ali, e não se conseguia levantar. E foi aqui que eu vi, assim, de caras, que tinha marcado a diferença. Para aquela senhora, eu fui a heroína da noite. Ajudei-a a levatnar, fui buscar um enfermeiro, estive a acalmá-la, vi que estava tudo ok. Heroína por uma noite. =)

É nestas pequenas coisas, que não obrigam a estudo, a sabedoria, a nada disso, nestas pequenas coisas que estão ao alcance de todos, exigindo apenas um pouco de paciência e tempo, que se vê a verdadeira diferença ser marcada. Os diagnósticos brilhantes e as técnicas mais recentes? Muitas das vezes, são apenas enfardos para os doentes... Já vi eu mais olhos gratos a olharem para mim depois de oferecer um copo de água no meio de urgências caóticas onde doentes são quase que esquecidos, que depois de dizer que a pneumonia estava curada, e que ao fim da tarde teria alta, ou que o enfarte não deixou sequelas graves num coração, tal como demosntrava o ecocardiograma que tinha obrigado o doente a fazer.

(brilhante conclusão ao fim de um mês de trabalho =P )

... a coisa começa a correr mal! ;P

E viva o ser-se jovem, robusto e que está cá para aguentar um sistema disfuncional!... Não é que me esteja a queixar, mas... IRRA! Ao menos que me pagassem!!

(é verdadeiramente triste, mas ainda não recebi... SOU INFELIZ!!! POBRE infeliz... no verdadeiro sentido da palavra pobre. Mais na onda do paupérrimo. Oh vida... Eu nem sei porque ainda alimento esperanças...)

E pronto, a vida é bela, mas ainda assim continua a ter os seus quantos "quês" que deixam algo a desejar. Mas hey, hoje o banco é "só" 12 horas, e amanhã o trabalho é "só" 5 horas, e o meu sistema jovem e robusto aguenta... espero! =) Se não, hey, foi um prazer conhecer-vos a todos! =)

Boas noites! =)

A equipa: 1 chefe de serviço desaparecido em trabalhos burocráticos, 1 especialista de medicina interna, 1 interna do geral, 1 interna do ano comum (IAC)

A missão: 24 horas, 43 doentes em maca no SO, 21 altas, 20 entradas, transferências... perdi a conta.

A protagonista: er... eu... qualquer semelhança com o boneco reside única e exclusivamente na expressão fac... er... "focinhal" =)


---

8:00
Doentes?! Quantos são, quantos são?! Bora lá a eles! Vá lá! Temos um dia grande pela frente! Vamos aos doentes! É hoje que eu vou salvar o banco do seu estado caótico! Eu consigo! Eu sei que sim! Doentes para entrar? Venham eles! Doentes para saír? Dê aí o processo, trato já disso! Fez RX? Está na TC? Tem uroculturas? Faz amiodarona? Bora lá trabalhar! IUPIIII! Hoje tou num dia SIM! ISto hoje vai correr maravilhosamente bem! Vamos por música! Vamos ver doentes! VAmos trabalhar! Mais uma entrada? Dê aí o processo, trato disso logo a seguir!



12:00
Ah, e tal, e análises, e... é pá, tenho fome. Ninguém tem fome? E que tal uma pausa? Tou farta! Olha lá, já vi um, dois três, quatro... quatro doentes! E internei outro, e dei a alta a outro. Está na altura de uma pausa, não acham? Que tal? Paramos 10 minutinhos, é o tempo que demora a vir o resultado da gasimetria... depois é só passar! Não têm fome?.. Olha, mais outra entrada! Sim, eu vejo a seguir. Mas primeiro comer, pode ser? Só ali buscar umas bolachinhas, comemos depois aqui na sala...



15:00
...uff ufff! Vim a correr! Ainda dá para almoçar?! A sério! óptimo!!



15:20
Estamos de volta. Bom, trabalhar, não é?... É pá, impressão minha, ou isto está a ficar desorganizado?



16:00
Eh pá... que coisa mais estranha neste resultado das análises... Ou calma. Se calhar sou eu que já não estou a raciocinar bem. Ca raio... Será que isto é verídico? Ó céus... como eu não percebo nada disto. O que raio é que estou para aqui a fazer?... Devia-me ir dedicar à pesca. O quê?! Foi transferido? E vai entrar mais outro? Agora?!... Será que o banco não acaba?... Bom, trabalhar, né? Pode ser que entretanto apareça alguém mais competente e que me explique isto... que sinceramente... que coisa mais estranha.



18:00
A sra. Enfermermeira está à procura de um processo? Qual processo? Eu não vi nenhum processo! Eu... aqui? Nah! Certamente que não é o processo que procura! Este processo é MEU! MEU!.... pode ser? :)



18:30
MAS QUEM É QUE TIROU O DOENTE DO LUGAR?! E AGORA?! PARA ONDE É QUE ELE FOI?! E CADÊ O PROCESSO?!?!?! ARGH!!!



22:00
Estou cansada...



23:00
Estou cansada... estou farta disto....



24:00
Estou cansada... estou farta disto... quero ir para casa....



01:00
Estou cansada... estou farta disto... quero ir para casa... quero ir dormir...


(...)


07:30
Estou cansada... estou farta disto... quero ir para casa... quero ir dormir... tenho fome... tenho sede... quero respirar ar puro... quero ir para casa... estou farta... tenho frio... ah, espera, não, até nem tenho frio... mas a equipa de substituição já chegava... vá lá... só mais meia hora...



09:30
Os doentes foram vistos. As altas foram dadas. As transferências foram feitas. A equipa de substituição já chegou, já se passaram os doentes, já estou de volta ao cacifo, estou a tirar a bata, cheiro o café a vir do bar e...

... calma! Espera lá! Sobrevivi?! :O

WOW!!! Mais uma história de sucesso no decorrer destas 24 horas de banco impossíveis!! WOW!!! I SURVIVED!!! =)


E mais uma vez a "heróia" da história sai de um banco feliz e contente com a vida. Lamúrias do fim do dia? Já foram todas esquecidas! Aliás, alguma vez existiram?! Nah, nem pensar! Foi o máximo! Bancos? Venha o próximo! Eu estou cá para aguentar! =)

E viva a equipa maravilha!

Ou então falta de imaginação. Tanto faz. O que é certo e sabido, e como já devem ter reparado, é que o velho blog está a enfrentar dias críticos no que toca a periodicidade de publicação de posts. É a vida. Às vezes também faz falta parar um bocadinho.

Eu não vou mentir. Todos os dias venho ao blogger, e todos os dias passo uns 2-3 minutos a pensar "o que vou postar hoje?"... Ultimamente, nada vem à mente. Os eventos do dia não merecem relato especial, as botas que teimo em comprar teimam em não estar à venda (o que se passa com as botas este ano, que eu não encontro nenhumas de jeito?!), o estudo... bom, esse era bom que existisse, mas não existe (!), o sono já faz parte da rotina diária, os doentes são a pneumonia e o enfarte banal, a equipa de médicos continua fantástica como sempre, o chefe de serviço continua fielmente a pagar-me o café todos os dias, os internos que partilham comigo longas horas de bancos lá continuam, os amigos distantes, distantes estão, os amigos não tão distantes estão agora em época de exames, ou a trabalhar, ou desaparecidos, ou... sei lá...!, os assuntos cardíacos (isto é, do coração -> romanticos, portanto) estão estagnados, recuados, e mais uns tantos "-ados" que prefiro não partilhar, o tempo está uma miséria (e diga-se de passagem que já desperdicei demasiados posts com o tempo)... e quando finalmente se decide caír granizo, estou num corredor do hospital sem janelas, e com 6 pisos em cima de mim (isto é, toda a gente fala de granizo que eu não vi (nem ouvi!) caír... é triste!). Enfim... como podem ver, os temas esgotam-se, e os posts ficam por escrever, por falta de conteúdo. Miséria... =)

Talvez seja a vida que de um momento para o outro ganhou nova forma (fui recentemente acusada de "ter, finalmente, uma vida"), ou se calhar o entusiasmo perante "o mundo lá fora" impede-me de dar grandes atenções ao "mundo cá dentro". Ou se calhar saturei, simplesmente. Ou ainda, existe também a possibilidade de eu estar a ficar velha, oficialmente. Quem sabe? Eu não sei certamente. Sei que não tenho andado muito iluminada, isto é, tenho andado sem ideias brilhantes para postar. Isto eventualmente acabará por passar. Até lá, aturem um blog semi-estagnado. Ou então façam como eu - arranjem uma vida, e dediquem-se a ela, em vez de se dedicarem a blogs estagnados como este! =)

Até breve!

So others may live.

Foi hoje! Entrei oficialmente na semana em que espero (!!) receber o meu primeiro ordenado! Fruto do meu suor, euros que surgem como compensação pelos meus (muitos) esforços para com a sociedade! =) Finalmente pronta para começar a sustentar-me a mim própria, contando ainda, no entanto, com o sustento dos outros no que toca a habitação, alimentação e outros "-çãos" que compõem toda uma vida. Mas já com uma conta bancária prestes a atingir valores nunca antes alcançados, com mais um dígito que o habitual!

Planos? Existem muitos, e variados! Afinal, gastá-lo custa bem menos que ganhá-lo! Cafés são garantidos (basta porem-se a jeito, que eu ofereço!), mas o grosso deverá ser poupado - afinal, os planos são, na sua maioria, a longo prazo.

Mas ainda assim, vai dar gozo analisar aquele meu primeiro ordenado, descobrir de onde veio cada um dos cêntimos que o compõem. Das horas previstas? Das horas extraordinárias? Dos bancos aos fins de semana? Das noites? Dos dias?

... e o entusiasmo continua! :) hehehe!

Porque é que esta música totó não me sai da cabeça?! Bom, já que eu tenho de a aturar, aturem-na vocês também! ;)



Bom fim de semana a todos!

Assim, sem mais nem menos, finalmente, depois de muitos anos a mirá-las... decidi comprar uma para mim! A minha própria cymbidium! E mais, foi uma orquídea oferecida! Pois no momento em que ía pagar, não me deixaram. Quiseram oferecer-me. Acharam-me digna de um presente por razão nenhuma, sem data especial a celebrar. E foi tão bom...!

O que fazer quando as opções deixam de existir? Quando existe vontade de ajudar, mas somos incapazes?

Ontem de manhã deu entrada na enfermaria um doente. Velho, novo... importa?! É um ser humano. Isso basta para ser necessário ajudar a todo o custo. Suspeita de AVC, mas com algumas peças de informação que simplesmente não encaixavam no quadro típico do AVC, e um TC sem vestígios de tal coisa. Degradação do estado de consciência - primeiro, de dia para dia, depois, de hora para hora, finalmente de minuto para minuto. Bradicárdias de 30 batimentos por minuto. Poderia ser esta a causa? Põe-se pacemaker. O coração começa a bater mais depressa, mas o estado de consciência continua a caír. Teria sido um AVC posterior, que o TC se recusa a detectar com tanta facilidade? Pedir uma ressonância magnética. Mas não pode ser - já tem o pacemaker, já não pode fazer a ressonância. Meningite, talvez? Está com febre, os parâmetros inflamatórios estão aumentados, e existe uma possível rigidez da nuca, que mais faz lembrar uma anquilose que um sinal meníngeo. Mas há que pensar nessa possibilidade. Fazer punção lombar. Mas a respiração já não aguenta o posicionamento para a punção. Ventilar. Sim, parece a melhor opção. Aquela respiração, aqueles periodos de apneia... este homem precisa de um ventilador. Mas o único disponível de momento estava prestes a ser usado numa jovem com mal asmático. Não existem ventiladores.

Que fazer, então? Agora quando as opções se esgotaram? Esperar? Deixar a natureza tratar do resto? Algures, existirá uma família, filhos, netos, amigos... Que hão-de eles pensar ao ver o doente neste estado, quando ele tinha entrado 3 dias antes na urgência, com uma confusão. Autónomo. Uma simples desorientação, que foi evoluindo para uma incapacidade de falar, às tantas, algures, uma infecção respiratória, uma alteração do estado da vigília, um estupor, um coma... umas apneias.

Tratar empiricamente. Combater AVC's invisíveis e meningites sem agente isolado. Empiricamente. Mas aquela respiração....

Fui para o banco. Passei o banco a pensar neste senhor. Às 3 da manhã regresso à enfermaria. Ver o doente. Ver que nada melhorou. A mesma respiração difícil, as mesmas apneias, agora já não reage sequer a estímulos dolorosos. Um estado de coma.

Eram 07:30 quando voltei a passar por lá. A cama estava agora ocupada por uma senhora. Uma pneumonia. Igual a tantas outras.... ou será?

Ao saír da enfermaria, deparo-me com o neto. "O hospital telefonou... disse para eu vir com urgência.... o meu avô faleceu?"


...


... Como explicar que de vez em quando, tudo se esgota...? Deparamo-nos com a ausência de opções. Com a ausência de exames, de métodos, de medicamentos. Esperar. E deixar a natureza tomar o seu curso...

É curioso. No fim do meu primeiro dia de trabalho, aquele tal catastrófico, em que cheguei a casa desfeita em lágrimas (ou perto...), uma das primeiras coisas que fiz foi olhar para 2009 e planear férias. Ficou um esboço de um plano, que prometi a mim mesma ser acabado no dia seguinte. Afinal, se o trabalho era assim tão horroroso, tinha mesmo de me concentrar em férias para manter alguma da sanidade mental, e portanto tinha que as planear.

Curioso como passou uma semana, e a única coisa que tenho em relação a planos de férias é aquele esboço inicial de segunda feira passada. Não tornei a olhar para os dias de 2009 para me decidir quando é que mais me convinha tirar férias. Não voltei a pensar se gostaria mais de usufruir de férias na páscoa ou no aniversário, Simplesmente não me incomodei com o assunto. Pensar em férias para quê, se o trabalho estava a ser tão divertido?

E neste momento lembro-me que tenho de planear férias. E o calendário está mesmo aqui ao lado. Mas não me apetece. Não me apetece mesmo nada.

Engraçado como um estado de espírito consegue modificar a vontade de férias a tal ponto!

... E vou ler qualquer coisa. Porque definitivamente, olhar para calendários agora é algo que não me apetece! ;)

Caramba. Tanto frio, tanto frio... e neve?! Cadê ela?! Espanta-me que ninguém refile quanto a este assunto! Estradas cortadas por todo o Portugal fora, e nós aqui sem um floquinho de neve que seja?! Nada?! Vai tudo para o Norte, para o Interior... e Lisboa fica apenas e somente com o frio?!

... E NINGUÉM REFILA?! ...



Bah.. eu também queria brincar na neve... :(

Estou maravilhada. Sei que os posts agora são sempre sobre o mesmo, e provavelmente estou a entediar toda a gente com "mais um post sobre como medicina interna está a ser fantástico", e tal... e por isso mesmo peço desculpa.

Mas eu tenho de partilhar isto.

WOW! =)

A minha alma está parva! Nunca eu pensei chegar ao fim da primeira semana de trabalho, com 30 horas de banco, e 4 dias de enfermaria (é muita hora! =P), tão "lá no topo!!", depois daquele primeiro dia catastrófico.

"Tão lá no topo!!"?, perguntam vocês (aqueles que resistiram à ideia de ir procurar blogs menos enfadonhos que o meu, e que chegaram até aqui na sua leitura, pelo menos :P)

Pois é - há uma semana atrás, disseram-me - "Interna-me este doente", e foi o cabo dos trabalhos. "E como faço, e onde está, e qual o botão, e onde procuro as análises, e fez RX, etc etc etc"... Nem me atrevi a fazer terapêutica nessa altura. É que nem olhei. Uma incompetente como eu? Acho que estando parada sem fazer nenhum iria garantir um prognóstico muito mais favorável ao doente do que se ele tivesse de ser submetido a qualquer coisa que fosse que eu me lembrasse de lhe prescrever na altura...

Pois nas últimas 24 horas, disseram-me n vezes "Interna-me este doente"... e WOW! =) Até a terapêutica já faço sozinha! Dão-me o doente, dão-me uma folha branca... e eu colho história, faço exame objectivo, peço análises e outros exames, vejo análises e outros exames, e no fim.... EU PRESCREVO! Doses, vias, princípios activos... WOW! Sem suporte informático, mesmo tinta azul sobre folha branca!!! (estão tão pasmados quanto eu? :P) E em vez do vazio que me cruzava a mente nessa altura, agora surgem-me perguntas pertinentes|! "E tem HTA?", "E qual a FC?", "E tem broncospasmo?", "E está hipotenso?", "E tem fervores de estase?", "E faz amiodarona?"... 1001 perguntas do mais pertinente que há! (melhor ainda é detectar erros grosseiros de médicos mais velhos - "Diabético com glicémias de 500 já há 3 dias... ora bem, QUEM FOI O OTÁRIO QUE LHE PRESCREVEU DIETA HIPOSSALINA?! E QUEM É QUE PEDE BMTESTS SEM PRESCREVER INSULINA EM SOS?!... pft... otários..." (sim, estou a ser cruel, pk eu tb cometo erros graves, e não são poucos! :P Mas é tão bom sentir-me competente!)

Terapêutica - sim, sim, muitos manuais sobre o assunto, muitos livros dedicados à coisa... Mas a sério, nada como experiência para começar a fazer a coisa bem feita! Hehehe!

Pois é... Ao fim de 64 horas de trabalho (controladas a dedo (literalmente, LOL!), consegui fazer 3 prescrições perfeitas! (isto é, sem nenhuma achega dada posteriormente por um qualquer colega mais velho, e mais sábio, a quem eu fielmente mostro tudo o que escrevo no que toca a prescrições.) :D É o meu record! hehehe

Sim, de facto - "Lá no topo!"


Mas giro giro... é chegar a casa depois de 25 horas a trabalhar, e estar cheia de vontade de aprender exame neurológico. Isso é que é o mais giro! =) Life is good!

Ok... isto não é bonito de se dizer, mas...

... Corro sérios riscos de passar a adorar medicina interna! (não estou a brincar...)

Uma especialidade que sempre desgostei enquanto estava a tirar o curso, uma especialidade que sempre me meteu medo... Parece que neste momento, é do mais giro que há! (Até a mim me surpreende esta mudança de atitude!) Talvez por estar associada a uma equipa fantástica, talvez por ter sido o meu primeiro contacto com a medicina sob o ponto de vista do médico e não de aluna, talvez por ter 4 doentinhos fantásticos 100% ao meu encargo (ok, 99,9%, que a assinatura da alta não pode ser minha)... não sei muito bem. Mas a sério, Medicina Interna - estou swimplesmente a A D O R A R !! Dois bancos por semana, um dos quais de 24 horas, é que não me está agradar grande coisa... mas supera-se (espero!)

Por favor, alguém que me acompanhe no dia da escolha da especialidade, algures em Novembro, e me impeça de pôr a cruzinha em medicina interna... Porque 3 anos a detestar esta especialidade devem valer muito mais que 3 dias a adorá-la! Por melhores que estes 3 dias tenham sido! :)




btw - ser médico é muuuuuito giro! =) Subir de posto dentro dum hospital tem direito a muita coisa! hehehe

.. A bonança! :)

Eu passo a explicar - o primeiro dia de trabalho sempre me assustou bastante. Imaginava esse dia o verdadeiro caos, fosse ele passado na enfermaria, fosse ele passado nas consultas. Pois nunca imaginei que o primeiro dia fosse passado num dos bancos mais caóticos de medicina. Assustada? Não... pior. Intimidada até à mais pequenininha célula que compõe o meu ser. E ainda assim, é pouco! =) A ideia de fugir atravessou-me várias vezes a mente. A ideia de chorar atravessou-me a mente muitas mais. Mas a boa disposição de quem se divertia a gozar com o meu "ar apânicado" logo punha de parte esses insitntos básicos de sobrevivência, e segundo a segundo sobrevivi ao banco. Até eu estou incrédula..! Este feito era, certamente, digno de uma homenagem! Algo nas mesmas linhas da Odisseia ou da Ilíada de Homero! =) E ainda assim, não sei se estaria à altura do(s) meu(s) grande(s) feito(s) de ontem! =) Afinal, nem todos sobrevivem a tal experiência traumática certamente...!

Mas enfim, por mais incrível que possa parecer, sobrevivi. Confesso que a caminho de casa, já passavam das 10 da noite, fui assombrada pela dúvida aterradora sobre a minha escolha profissional. "Oh não! O que fui eu fazer?! Onde estava eu com a cabeça ao longo destes anos todos, convencida que eu seria capaz de fazer tal coisa?! Parva Ana! Feia Ana! Devias ter ido para letras, ou para as caixas do jumbo, ou coisa parecida!!"...

E hoje, segundo dia de trabalho. Digamos que o humor ao acordar não era dos melhores! =)

Enfermaria.

Pois sobre este dia de trabalho, tenho apenas um comentário a fazer: Aaaaaaaaaaiiii....! ( <- grande suspiro de alívio)

E a vida tornou a fazer sentido! E o caos de ontem parece-me um caos longínquo. E ser médica realmente ganhou a cor que eu esperava ter ganho ontem! =)

Ainda assustada... mas cada vez mais competente. E hoje chego a casa 100% convencida que eu nasci para isto!

... e vai um prémio para quem conseguir perceber o que é que o Eddie está a cantarolar!

Finalmente 2009...! Por um lado, um recomeço. Por outro lado, uma iniciação. Mas, acima de tudo, uma continuação de um projecto iniciado há já mais de 24 anos.


... Finalmente 2009 ...

=)