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Marcar a diferença

Curiosamente, é quando nos desviamos um pouco do nosso rumo que marcamos a diferença. Não são os 6 anos agarrados a calhamaços, não são as 24 horas de banco, não é saber a resposta na ponta da lingua a todas as questões que nos colocam, não é ter média 20, nem saber fazer descrições anatómicas ao pormenor, não é quando interpretamos análises brilhantemente... nada disso. Aí existe todo um sistema a funcionar - se não for eu, há-de ser outro.

Curiosamente, marca-se a diferença quando nos desviamos um pouco do nosso rumo. Ontem à noite, quando ía a entrar de banco, lembrei-me de passar na enfermaria. Só para deitar os olhos aos doentinhos. Nada me obrigava a fazê-lo, não tinha exames a ver, nem doentes instáveis, nada disso. Simplesmente tinha um tempinho para queimar, e decidi dar lá um pulinho.

Era hora do jantar da equipa de enfermagem. Estavam todos presentes, em alerta a qualquer sinal que fosse emitido das campainhas dos doentes. Mas estavam todos concentrados num mesmo sítio.

Passei no corredor, ía olhando para os quartos. E é quando passo num deles que dou conta de uma doente caída. Prestes a chorar, pois ela não conseguia chegar à campainha, e os doentinhos que partilhavam o quarto com ela não o fariam por ela, pois as suas condições não os permitiam. Pergunto-lhe o que se passou, e ela desta num choradeiro. Aparentemente, já há mais de um quarto de hora estava ali, e não se conseguia levantar. E foi aqui que eu vi, assim, de caras, que tinha marcado a diferença. Para aquela senhora, eu fui a heroína da noite. Ajudei-a a levatnar, fui buscar um enfermeiro, estive a acalmá-la, vi que estava tudo ok. Heroína por uma noite. =)

É nestas pequenas coisas, que não obrigam a estudo, a sabedoria, a nada disso, nestas pequenas coisas que estão ao alcance de todos, exigindo apenas um pouco de paciência e tempo, que se vê a verdadeira diferença ser marcada. Os diagnósticos brilhantes e as técnicas mais recentes? Muitas das vezes, são apenas enfardos para os doentes... Já vi eu mais olhos gratos a olharem para mim depois de oferecer um copo de água no meio de urgências caóticas onde doentes são quase que esquecidos, que depois de dizer que a pneumonia estava curada, e que ao fim da tarde teria alta, ou que o enfarte não deixou sequelas graves num coração, tal como demosntrava o ecocardiograma que tinha obrigado o doente a fazer.

(brilhante conclusão ao fim de um mês de trabalho =P )

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1 comments:

Anonymous said...

Já dizia alguém... uma imagem vale mais que mil palavras... Em medicina um pequeno sorriso e uma mão no ombro da nossa parte é o melhor dos placebos... =)