O que fazer quando as opções deixam de existir? Quando existe vontade de ajudar, mas somos incapazes?
Ontem de manhã deu entrada na enfermaria um doente. Velho, novo... importa?! É um ser humano. Isso basta para ser necessário ajudar a todo o custo. Suspeita de AVC, mas com algumas peças de informação que simplesmente não encaixavam no quadro típico do AVC, e um TC sem vestígios de tal coisa. Degradação do estado de consciência - primeiro, de dia para dia, depois, de hora para hora, finalmente de minuto para minuto. Bradicárdias de 30 batimentos por minuto. Poderia ser esta a causa? Põe-se pacemaker. O coração começa a bater mais depressa, mas o estado de consciência continua a caír. Teria sido um AVC posterior, que o TC se recusa a detectar com tanta facilidade? Pedir uma ressonância magnética. Mas não pode ser - já tem o pacemaker, já não pode fazer a ressonância. Meningite, talvez? Está com febre, os parâmetros inflamatórios estão aumentados, e existe uma possível rigidez da nuca, que mais faz lembrar uma anquilose que um sinal meníngeo. Mas há que pensar nessa possibilidade. Fazer punção lombar. Mas a respiração já não aguenta o posicionamento para a punção. Ventilar. Sim, parece a melhor opção. Aquela respiração, aqueles periodos de apneia... este homem precisa de um ventilador. Mas o único disponível de momento estava prestes a ser usado numa jovem com mal asmático. Não existem ventiladores.
Que fazer, então? Agora quando as opções se esgotaram? Esperar? Deixar a natureza tratar do resto? Algures, existirá uma família, filhos, netos, amigos... Que hão-de eles pensar ao ver o doente neste estado, quando ele tinha entrado 3 dias antes na urgência, com uma confusão. Autónomo. Uma simples desorientação, que foi evoluindo para uma incapacidade de falar, às tantas, algures, uma infecção respiratória, uma alteração do estado da vigília, um estupor, um coma... umas apneias.
Tratar empiricamente. Combater AVC's invisíveis e meningites sem agente isolado. Empiricamente. Mas aquela respiração....
Fui para o banco. Passei o banco a pensar neste senhor. Às 3 da manhã regresso à enfermaria. Ver o doente. Ver que nada melhorou. A mesma respiração difícil, as mesmas apneias, agora já não reage sequer a estímulos dolorosos. Um estado de coma.
Eram 07:30 quando voltei a passar por lá. A cama estava agora ocupada por uma senhora. Uma pneumonia. Igual a tantas outras.... ou será?
Ao saír da enfermaria, deparo-me com o neto. "O hospital telefonou... disse para eu vir com urgência.... o meu avô faleceu?"
...
... Como explicar que de vez em quando, tudo se esgota...? Deparamo-nos com a ausência de opções. Com a ausência de exames, de métodos, de medicamentos. Esperar. E deixar a natureza tomar o seu curso...
Hora da sesta
10 years ago
3 comments:
É com tristeza que se ouvem falar de impossibilidades. Mas é mesmo assim: diria o Mufasa que é o “Ciclo da Vida”.
Melhores dias virão, que justificarão toda a tua ânsia de ser média, de ajudar, de curar, de ver o doente sorrir porque está a ficar melhor ;)
o que disseres sera insuficiente...
mas acredita no que te digo: diz, diz sempre algo, explica como aconteceu, dá algo a que as pessoas possam agarrar, para que não tenham um sentimento de culpa, para que nao fiquem com a sensação de que falharam em algo, de que podiam ter feito mais...explica, fala, muito, pouco...nao tira a dor, mas pode diminuir
será sempre insuficiente, mas sera muito mais que nada
completamente fora de contexto: dá uma olhadela. é mm mt longo, é verdade..mas vê, principalmetne quando ele toca com tudo, maos e pés...uma pergunta nós no orgao tocavamos com os dois pés como este senhor? eu ja n m lembro :P
http://www.youtube.com/watch?v=Zd_oIFy1mxM
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